DOMITILA – Casa das Artes de Famalicão
DOMITILA de João Guilherme Ripper Miniópera em um ato baseada nas cartas de D. Pedro I e Marquesa de Santos
“Para quem por amor me prende e por amor he preza……”
A interpretação que J.G. Ripper faz na sua música da personagem “Domitila” parece-me desenhar uma pessoa que sofre de um grande amor perdido, que vive numa desilusão, que busca até uma espécie de vingança. Parece englobar em si uma espécie de dependência. Uma dependência por este amor perdido e por não ter atingido o seu objetivo com o relacionamento. Tal qual uma Miss Havisham (personagem de C. Dickens na obra “Grandes Esperanças”). Assim a atmosfera criada pela cenografia busca um local de passagem de uma casa. Uma habitação que é deixada para trás. A personagem abandona a casa a pedido do ex-amante encontrando as cartas que habitam em si. Apenas o espírito da Domitila permanece, revivendo tempos passados. As projeções de memórias são derramadas sobre a cenografia e o figurino. São ilustrações e pinturas, que remetem para o período de vida da Marques (1797-1867), feitas por Teive, Debret, Hildebrandt, Júnior, Almeida, Landseer, Taunay, Chamberlain, Guilobel, Rugendas, Graham, entre outros.
O figurino é uma peça completamente original, desde o tingimento do tecido à pintura feita à mão. Recria fielmente a ortografia das cartas de D. Pedro I o papel amarelecido pelo tempo, os carimbos dos arquivos históricos; os envelopes; e os borrões de tinta alagados em lágrimas. Assim a encenação não irá também seguir uma linha ilustrativa do dia sugerido pelo libreto. A Marquesa sabe as cartas de memória, ela vive com elas, ela não as descobre por acidente quando vai sair de casa, ela no fundo, nunca saiu de casa naquele dia, ela vive lá hoje e nas palavras que Pedro escreveu.