Não Sou Nada I Edgar Pêra
Há muitas maneiras de pensar em Fernando Pessoa e nos seus múltiplos heterónimos, mas é preciso chegar Edgar Pêra para os pôr todos a jogar aos matraquilhos uns com os outros. Não só isso, como os põe a todos como amanuenses do seu criador, vestidos de igual, identificados por dísticos nos casacos e trabalhando numa editora que está a preparar o n.º 23 da revista Orpheu. Projecto de longa gestação, este “néon-noir” literário foi escrito com Luísa Costa Gomes e ancora-se na ideia dos heterónimos para brincar com os códigos do cinema de género e da série B, passados pelo particular sistema de filtros psicotrópicos de Pêra (mesmo que, aqui, muito mais controlados do que lhe é habitual). Neste universo paralelo construído a partir da obra pessoana, o “verdadeiro” poeta, encarnado pelo actor Miguel Borges, dirige a tal casa editora que é também uma “produtora de conteúdos” assinados pelos seus heterónimos em longas filas de secretárias, com um departamento de cinema gerido por Álvaro de Campos (a Ecce Film, de facto uma ideia de Pessoa que até teve um logótipo). Para além de Borges a dar vida ao protagonista, o elenco conta ainda com as actuações de Victoria Guerra, Paulo Pires e Albano Jerónimo.
Título Original: The Nothingness Club – Não Sou Nada (Portugal, 2023, 90 min) Realização: Edgar Pêra Interpretação: Miguel Borges, Victoria Guerra, Marina Albuquerque, Vítor Correia, Albano Jerónimo Classificação: M/14
Não Sou Nada I Edgar Pêra